Na terça-feira, as taxas dos contratos de DI registraram uma forte queda, influenciadas pela redução nos rendimentos dos Treasuries após declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed), além de uma percepção de menor risco fiscal no Brasil, devido às notícias de que a meta de resultado primário para 2024 não será alterada no curto prazo.
No exterior, houve uma queda nas taxas dos Treasuries durante o dia, pois os investidores acreditam que o Federal Reserve está prestes a encerrar seu ciclo de aumento de juros. Isso foi impulsionado pelos comentários de alguns dirigentes do banco central norte-americano.
Austan Goolsbee, presidente do Federal Reserve Bank de Chicago, anunciou hoje que foram registrados progressos significativos no sentido de trazer a inflação nos Estados Unidos de volta ao objetivo de 2%.
“Já mencionei há algum tempo que, à medida que avançamos, a questão de até que ponto a taxa de juros deve subir deixará de existir e se transformará em até quando devemos manter os juros nesse nível, dado que a inflação está em queda”, afirmou.
No início da semana, a diretora do Federal Reserve (Fed), Lisa Cook, expressou uma opinião semelhante ao afirmar que espera que a taxa de juros atual, variando entre 5,25% e 5,5%, seja suficientemente restritiva para trazer a inflação de volta à meta gradualmente.
O presidente do Federal Reserve de Minneapolis, Neel Kashkari, expressou uma postura mais rígida em relação à inflação, sugerindo que o Fed talvez precise tomar medidas adicionais para alcançar sua meta.
“O discurso de alguns membros do Federal Reserve agradou os investidores, pois sugeriram que talvez não haja mais aumentos na taxa de juros este ano, pelo menos, e destacaram que a alta das taxas de longo prazo, se mantidas, podem fortalecer a política monetária“, observou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
Nesta situação, os lucros provenientes dos títulos do Tesouro diminuíram e, ao mesmo tempo, as taxas dos contratos futuros de juros caíram no Brasil, especialmente nos prazos mais longos.
Uma perspectiva interna mais positiva em relação às finanças públicas contribuiu para a redução do valor do dólar em relação ao real e para a estabilização da curva de prazo.
Segundo um artigo publicado pela Folha de S.Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não enviar uma mensagem ao Congresso para propor modificações na proposta da meta fiscal de 2024, pelo menos não nesta semana.
De acordo com duas fontes familiarizadas com as negociações, a Reuters confirmou que o governo planeja continuar buscando um déficit zero por enquanto, para dar ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tempo para negociar a aprovação de medidas que aumentem a arrecadação e evitar qualquer mudança imediata.
Segundo o governo, após ser surpreendido pela afirmação inesperada de Lula de que seria difícil manter a meta de déficit zero, Haddad conseguiu reassumir o controle do processo.
Rostagno afirmou que essa ação do governo tem a capacidade de reduzir ligeiramente o prêmio na curva. No entanto, ele ressaltou que a expectativa é que em breve a meta fiscal seja modificada, tornando essa medida apenas uma estratégia temporária. Apesar disso, Rostagno considera esse recuo como uma tática do governo.
O governo definiu como objetivo atingir um resultado primário zerado até 2024, no entanto, o ex-presidente Lula recentemente questionou a capacidade de sua administração em alcançar essa meta. No mercado financeiro, acredita-se que em algum momento será necessário alterar esse parâmetro.
Na parte da manhã, foi divulgada a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na qual constava que a incerteza em torno da meta fiscal aumentou nos últimos tempos, levando a um aumento do prêmio de risco. No entanto, o BC reafirmou a importância de se buscar firmemente a meta estabelecida. No documento, também foi mencionada uma piora no cenário externo.
“A ata do Copom foi mais enfática do que o comunicado pós-encontro, especialmente ao destacar os riscos no cenário internacional e repetir a palavra ‘cautela’ cinco vezes – enquanto o comunicado anterior mencionava apenas duas vezes”, observaram o economista-chefe Alexandre Espírito Santo e a analista de macroeconomia Eduarda Schmidt, do Órama Investimentos, em um comunicado enviado aos clientes.
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) foi menos relevante nesta terça-feira, uma vez que a curva a termo foi mais impactada pelas condições externas e algum alívio em relação à questão fiscal.
No final do pregão, a curva a termo indicava uma probabilidade de 92% de que o corte na taxa básica de juros, a Selic, em dezembro, seja de 0,50 ponto percentual, conforme indicação do Banco Central. Enquanto isso, havia uma probabilidade de 8% de um corte de apenas 0,25 ponto percentual. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano.
No final da tarde, a taxa de DI para janeiro de 2025 fechou em 10,805%, uma queda em relação aos 10,865% do fechamento anterior. Já a taxa de DI para janeiro de 2026 ficou em 10,61%, abaixo dos 10,719% do ajuste anterior.
As taxas para os contratos de longo prazo viraram para baixo nesta semana. A taxa para janeiro de 2027 caiu de 10,917% para 10,755%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 caiu de 11,155% para 10,975%.
Às 16:37 (horário de Brasília), a taxa de rendimento dos títulos do Tesouro americano de dez anos – um indicador importante para decisões de investimento globalmente — estava em queda de 10,20 pontos-base, atingindo o patamar de 4,5603%.