Diogo Guillen, diretor de Política Monetária do Banco Central, expressou preocupação em relação às expectativas de inflação de longo prazo, que se mantêm em 3,5%. Segundo ele, essa falta de alinhamento representa um desafio para a política monetária e acarreta em custos.
Durante sua participação na conferência Itaú Macro Vision, Guillen abordou o tema da desaceleração das expectativas de inflação, sugerindo que tal fenômeno pode ter sido causado pela incerteza em relação ao compromisso do Comitê de Política Monetária (Copom) em atingir a meta estabelecida para a inflação. No entanto, ele ressaltou que essa preocupação foi dissipada com a adoção da meta contínua.
O diretor mencionou que, depois da manutenção da meta em 3% com uma meta contínua, houve uma queda inicial, mas posteriormente estabilizou em 3,5%. Além disso, ele indicou outras duas possíveis explicações.
Uma das questões relevantes é a projeção fiscal para o Brasil, que indica que o país continuará com déficit primário no próximo ano. Além disso, a alta nas expectativas de inflação nos Estados Unidos também pode afetar as previsões de preços no Brasil. Guillen ressaltou esses aspectos como fatores que merecem atenção.
Segundo o entrevistado, aqueles que preveem um aumento na inflação nos Estados Unidos também acreditam que haverá um aumento no Brasil.
Há 15 e 18 semanas, as estimativas de inflação para os anos de 2025 e 2026, compiladas pelo Banco Central no boletim Focus, permanecem inalteradas em 3,5%.
Guillen ressaltou que um período mais longo de desancoragem terá um impacto ainda maior na economia, pois isso resultará na percepção de que as projeções estão realmente acima da meta. Isso pode levar a uma maior pressão por aumentos salariais e de preços.
Guillen ressaltou que é crucial que o governo se comprometa com sua política fiscal, destacando que a autoridade monetária desaprova a “incerteza” em relação às metas para o resultado primário das contas públicas.
“Não somos fãs de incerteza… Assim como acontece com a meta de inflação, é fundamental que a condução da política e a definição da meta tenham credibilidade. Todos devem estar de acordo com o objetivo e saber quais são as medidas tomadas para alcançá-lo.”
A recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que será difícil para o governo zerar o déficit público no próximo ano, gerou incertezas em relação à política fiscal do governo. Mesmo com a resistência do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em alterar as metas para as contas públicas.
O panorama internacional em um caminho difícil.
Durante o evento, Guillen afirmou que a visão da agência reguladora em relação ao panorama global mudou de “incerto” para “adverso”. Ele destacou fatores como a persistência da inflação, as tensões geopolíticas e o comportamento dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano.
“Discutimos a evolução da nossa avaliação do cenário internacional em nossa comunicação. Iniciamos mencionando que o cenário estava ‘incerto’, posteriormente passamos a descrevê-lo como ‘mais incerto’ e atualmente o estamos classificando como ‘adverso'”, declarou.
Em uma declaração recente, o diretor do Banco Central expressou sua expectativa de uma diminuição na atividade econômica nos Estados Unidos devido às políticas monetárias do Federal Reserve. No entanto, ele também ressaltou que essa desaceleração não tem ocorrido. Além disso, o diretor destacou que os conflitos internacionais em andamento estão aumentando as incertezas em relação aos preços do petróleo no futuro.
Um especialista verificou que a situação econômica interna está de acordo com as expectativas do Banco Central, afirmando que o desempenho surpreendentemente positivo da economia durante o primeiro semestre pode ser atribuído, em parte, ao crescimento do setor de commodities e, em parte, a uma taxa de juros menos restritiva do que inicialmente prevista.
O Banco Central decidiu manter a taxa Selic em um patamar elevado de 13,75% por aproximadamente um ano. No entanto, em agosto, a instituição começou a implementar cortes na taxa de juros, o que resultou em uma redução para 12,25%. Apesar dessa diminuição, a taxa básica de juros ainda é considerada restritiva para a atividade econômica do país e para o acesso ao crédito.