Hoje, falaremos de um assunto que foi muito discutido de uns anos para cá, que é a história do Dólar em tempos de Covid 19, o que causou essa super alta da moeda, muitas pessoas inclusive, falaram na época, em crise cambial e tudo mais.
Vamos comentar aqui, uma informação muito importante e que boa parte das pessoas se quer sabe que existe e que na minha opinião, foi um dos grandes catalizadores desse movimento no dólar. Não perca essa oportunidade de conhecer um pouco mais sobre um mecanismo do mercado, que provavelmente você não conheça ainda.
Poucas pessoas estão de fato entendendo o principal motivo do dólar ter subido dessa forma tão absurda. Nos últimos anos, o dólar não havia parado de subir, a Bovespa também.
Como você já deve saber, o Brasil, é um país que paga historicamente uma taxa de juros muito alta, de acordo com a média mundial, para financiamento de sua dívida, a chamada taxa Selic. Frente especialmente ao risco de fato.
O último “calote” que o Brasil deu em uma dívida, foi em 1987, logo depois do processo de redemocratização. Ou seja, nos últimos anos o Brasil pagou taxas altíssimas para todo o mundo e nunca deixou de pagar. Frente ao cenário mundial, isso é uma relação de risco/retorno muito alta.
Não sou só eu e você que adoramos uma renda fixa, que pague muito. Todo mundo gosta disso, no mundo inteiro. Mas, existe um certo fluxo de capital, que é basicamente um capital especulativo, apátrida, que não está nem aqui, nem ali.
Ele está transitoriamente em um lugar e depois, parte para outro. Esse dinheiro quer remuneração, quer um lugar que tenha um risco menor do que a taxa de juros cobrada está precificando. Ou seja, países, empresas ou locais que estejam pagando pela sua dívida, taxas de juros acima do que de fato o risco precificado.
Existe um nome para esse tipo de operação financeira de investimento, chama-se Carry Trader. Que nada mais é que um fluxo de capital, apátrida, que hoje está aqui, mas se amanhã decidir, estará em outro lugar integralmente, buscando o tempo inteiro arbitrar essas distorções entre países, empresas ou locais que estão pagando taxas de juros potencialmente muito maiores do que o risco de fato embutido.
O Brasil, como historicamente paga taxas de juros muito altas e, por ter nos últimos anos, como já falamos, um histórico muito pequeno de calotes, ele é alvo fácil. Porque ele, nesses últimos anos, pagou tudo que ele prometeu de juros, pois nunca mais teve calote de dívida.
O que de fato mudou de um tempo para cá, depois de todo o ocorrido, foi que houve uma mudança de percepção estrutural nas questões da economia, ou seja, o mercado começou a precificar que a queda de juros teria chance de ser estrutural.
Desse modo, mais facilmente retornaríamos ao antigo patamar de juros muito altos.
Atualmente, a taxa Selic está acima de 7%.
O fator que altera a dinâmica das cotações de dólar, é o seguinte: principalmente a partir do meio de 2018, muitos títulos vão vencendo e esses títulos foram emitidos pagando 10, 12, 14, 16% ao ano. Mas, desde 2017 começou a cair a taxa de juros que remunera, ou seja, eu e você e esses fluxos de capitais internacionais que ganhavam 14% ao ano, por exemplo, começaram a ter que pegar títulos que estavam começando a remunerar a 10, 8, até menos, especialmente nos últimos tempos.
Então, eu, você e esses gigantes do mercado, principalmente, começaram a não mais querer pegar esses títulos de dívida. Inclusive, no mesmo período a bolsa começou a subir muito e não parou até agora, porque? Ao invés de eu pegar dinheiro e colocar em renda fixa, eu pego parte dele e não mais coloco em renda fixa, vou querer remunerar ele melhor, em outros lugares.
Se coloque no lugar de fundos, capitais, que são basicamente apátridas, não querem riscos e eles começam a sair do Brasil, país com dívida na casa dos trilhões de reais, todos os anos, existem centenas de dívidas vencendo, historicamente, essa dívida era “rolada”.
O Brasil basicamente, começou a expulsar boa parte desse capital e quis remunerar seu capital, sem produzir nada. O que acontece com o dólar, esse dinheiro que está em reais vencendo, tem que ser transformado em dólar para sair, isso causa uma pressão no dólar muito grande, o que faz ele não parar de subir.
São dívidas vencendo o tempo todo, esses devedores vão renovar, pegar outros títulos públicos. Outra parte, irá sair da renda fixa no Brasil e investir em outras formas dentro do Brasil: mercado acionário, fundos imobiliários e até mesmo investimento improdutivo.
Boa parte disso é dinheiro especulativo por natureza, que irá se transformar em dólar e não volta mais, a não ser que haja um novo colapso. Ou seja, nesse cenário, o dólar continuará pressionado e continuará subindo. A pressão de saída, é muito forte tem alguns anos, isso é transitório.
O Brasil estava muito mais forte, os juros não tinham nenhuma perspectiva de voltar aos antigos patamares, ou seja, o Carry Trader, não tinha a possibilidade de retornar com a mesma forca em nenhum horizonte plausível.
A situação do dólar, era transitória. O Banco Central, realmente, não interveria, pois, esse dinheiro que estava indo embora, teria de ir de qualquer forma. O Brasil é um país exportador e nesse sentido, o dólar alto, aumenta a competitividade das indústrias lá fora.
Importante: Troquem sempre fatores estruturalmente fracos, por fatores estruturalmente fortes.
A saída de Carry Trader, não há o que se fazer. É melhor que o dinheiro que venha seja estruturalmente produtivo. É bom lembrar que boa parte da dívida pública brasileira, é referenciada em reais. O que cria flexibilidade na administração dessa dívida.
Artigo por Mauricio Bellinelo