Neste domingo, teve início a eleição nacional na Argentina, que apresenta uma mudança significativa no cenário político do país devido às consequências da pior crise econômica em 20 anos. O líder nas pesquisas é um candidato libertário de extrema-direita.
A votação provavelmente terá um impacto significativo nos mercados financeiros, bem como definirá um novo rumo político e social para a Argentina. Além disso, também terá influência nos laços comerciais da nação, incluindo com parceiros importantes como China e Brasil. Vale destacar que a Argentina é um importante exportador de grãos e possui grandes reservas de lítio e gás de xisto.
O economista libertário Javier Milei é um dos três candidatos que provavelmente irão competir pela conquista dos votos, e ele é visto como o principal adversário depois de ter alcançado uma vitória surpreendente nas primárias abertas realizadas em agosto.
O ministro da Economia Sergio Massa, com inclinações peronistas e de centro, e a conservadora Patricia Bullrich estão competindo de forma acirrada nas eleições. Os especialistas preveem a necessidade de um segundo turno, pois não se espera um vencedor absoluto. As urnas serão fechadas às 18h (horário local e de Brasília), e os primeiros resultados devem ser divulgados por volta das 21h.
Milei, que assumiu o compromisso de interromper o atual cenário econômico e político, testemunhou eleitores irritados abraçarem sua mensagem, cansados da inflação anual de quase 140% e da pobreza que atinge mais de 40% da população.
“Milei é considerado a personificação de todas as necessidades da sociedade”, afirmou Juan Luis González, autor da biografia intitulada “El Loco”. González acredita que Milei, um personagem impetuoso frequentemente visto na televisão, poderá vencer apesar de ser um indivíduo “instável” que poderia causar mais danos à Argentina. O autor também compara Milei a Donald Trump e ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
O pesquisador González expressou grande preocupação ao avaliar a situação atual.
Terapia de Choque: uma abordagem terapêutica inovadora
No próximo domingo, para garantir sua eleição, um candidato precisará alcançar uma porcentagem de votos superior a 45% ou, alternativamente, obter pelo menos 40% dos votos e uma vantagem de 10 pontos percentuais em relação aos seus concorrentes.
Caso ocorra um segundo turno, a eleição aconteceria em 19 de novembro.
Independentemente de quem seja o vencedor, enfrentará desafios significativos diante de uma economia em estado crítico. As reservas do banco central estão agora esgotadas, prevê-se uma recessão iminente, resultante de uma prolongada estiagem, e um programa financeiro de 44 bilhões de dólares em andamento com o Fundo Monetário Internacional (FMI) está instável e incerto.
A estratégia terapêutica proposta por Milei abrange diversas medidas, tais como a adoção da dolarização da economia, o fechamento do banco central, a redução do tamanho do governo e a privatização de entidades estatais. Além disso, ele expressou críticas em relação à China, defendeu uma postura mais flexível em relação às leis de armamento, se opôs ao aborto e se posicionou contra o feminismo.
“Segundo Nicolás Mercado, um estudante de 22 anos de Buenos Aires, apenas uma pessoa é capaz de compreender a atual situação do país e sabe como resolvê-la.”
Segundo Susana Munoz, uma aposentada de 62 anos, a crescente popularidade de Milei é um reflexo das agitações globais, caracterizadas pela alta inflação, conflitos e migração, que estão alimentando as divisões.
“Ela expressou sua preocupação diante da complexidade do mundo e da incapacidade de escapar disso”, declarou ao votar no domingo. “A ascensão da direita é evidente em todas as partes e a presença de figuras como Milei é algo inacreditável.”
Massa, o atual chefe da economia, está participando da disputa eleitoral, mesmo tendo sido responsável pela supervisão da inflação que atingiu um nível de três dígitos pela primeira vez desde 1991. Ele afirmou que tem planos para reduzir o déficit fiscal, preservar o valor do peso e proteger a rede de segurança social peronista.
“O peronismo… é o único movimento político capaz de garantir que os menos privilegiados possam ter acesso a necessidades básicas”, afirmou Carlos Gutierrez, um pedreiro de 61 anos. “Estou confiante de que Massa irá adotar as medidas certas para alcançar esse objetivo”.
Bullrich, uma ex-ministra da segurança que é popular nos círculos empresariais, perdeu apoio inesperadamente com o surgimento de Milei. Especialistas acreditam que seja altamente provável que ela não se classifique para o segundo turno.
Após vários anos de instabilidade econômica, uma grande parcela dos eleitores demonstrou estar exausta.
“Eu sou obrigada a votar, mas não tenho muita vontade”, relatou Silvana Dezilio, uma dona de casa de 37 anos da província de Buenos Aires.
“Ela expressou sua descrença em relação às promessas feitas pelos governos, argumentando que, ao invés de melhorarem nossa situação, eles têm nos levado a uma deterioração contínua. Mesmo quando comparamos nossa situação com a de outros países que conseguiram superar seus problemas, parece impossível acreditar que estamos apenas piorando a cada dia.”