Navegar pela transição energética é um desafio e, recentemente, as águas britânicas mostraram-se mais turbulentas do que o esperado.
O dilema do último leilão
Em uma virada surpreendente, o último leilão para a construção de parques eólicos no Reino Unido não recebeu propostas. Este resultado inédito em quase dez anos levanta sobrancelhas e questionamentos sobre o compromisso do país com a energia limpa.
Interesses econômicos X Compromissos ambientais
O cenário parece paradoxal. Por um lado, os subsídios buscam assegurar um preço mínimo, tentando atrair desenvolvedores. Por outro, os empresários clamam por incentivos mais substanciais, alertando sobre possíveis paralisações.
No coração deste conflito, Rishi Sunak, o primeiro-ministro, tenta equilibrar contas públicas, metas ecológicas e pressões eleitorais com uma eleição prevista para 2025.
Percepções públicas e o equilíbrio da balança
A população britânica está atenta. Aumentar os custos da energia ou favorecer indevidamente as empresas de energia são perspectivas impopulares, especialmente considerando as recentes dificuldades econômicas.
Contudo, como salientado por Simon Virley da KPMG, retroceder na transição para energias renováveis seria um “grande revés num momento crítico”.
O panorama global da energia eólica e o papel britânico
Historicamente, o Reino Unido orgulha-se de seu pioneirismo em energia eólica offshore, sendo superado apenas pela China. Contudo, as crescentes pressões inflacionárias e o encarecimento dos equipamentos ameaçam essa posição de liderança.
O alarme soa quando consideramos os números. As metas estabelecidas para 2030 parecem cada vez mais inatingíveis, com o país atualmente alcançando menos de um terço da capacidade desejada, de acordo com a BloombergNEF.
A necessidade de mudança e os próximos passos
O alerta foi enfaticamente repetido por Ashutosh Padelkar da Aurora Energy Research, que reiterou a urgência de se obter resultados significativos nos próximos leilões.
No entanto, o cenário torna-se sombrio com o aumento dos custos, levando a paralisações de projetos, como evidenciado pela Vattenfall AB.
Ambições climáticas e a busca por soluções
As metas estabelecidas pelo Reino Unido são certamente ambiciosas, com planos de uma rede elétrica neutra em carbono até 2035. Porém, tais aspirações, como apontado por Tom Glover da RWE AG, necessitarão de “uma ação governamental decisiva”.
O atual mecanismo de leilão, o Contrato por Diferença, oferece um preço base, beneficiando simultaneamente o Tesouro e as empresas, dependendo das flutuações de mercado.
No entanto, dada a natureza volátil deste modelo, muitos acreditam na necessidade de repensar a abordagem.
Visão para o futuro e a importância do compromisso
A questão, então, não é apenas sobre energia, mas também sobre compromisso e inovação. Como Eirik Hogner, da Clean Energy Transition LLP, sugere, a solução pode ser mais simples do que parece: “A correção é extremamente fácil e rápida; refazer o leilão e deixar o mercado definir os preços.”