A JBS, a principal empresa de produção de carne do mundo, anunciou um lucro líquido de R$ 572,7 milhões no terceiro trimestre, revertendo prejuízos registrados nos dois trimestres anteriores. Esse resultado positivo foi impulsionado pelos bons desempenhos do segmento de bovinos nos Estados Unidos e pela marca Seara no Brasil. No entanto, os números ainda estão aquém dos lucros expressivos alcançados no mesmo período do ano passado.
A JBS registrou uma queda de 85,7% no lucro no terceiro trimestre de 2022, em comparação com o mesmo período do ano anterior. O resultado ficou abaixo da previsão de consenso da LSEG, que esperava um lucro de 724 milhões de reais. No trimestre anterior, de abril a junho, a empresa havia registrado prejuízo de 263,6 milhões de reais.
De acordo com Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, é importante considerar as diferentes condições do mercado consumidor e de oferta ao comparar trimestres. A empresa tem enfrentado dificuldades devido à escassez de bovinos para abates nos Estados Unidos.
Entretanto, o resultado mais recente revela uma melhoria em certas divisões da empresa, bem como o impacto positivo da redução nos preços dos grãos, que afetam os gastos da empresa na produção de ração animal.
“Reafirmamos que aquilo foi o ponto mais baixo, e que a cada trimestre teremos uma melhoria constante devido à nossa diversificação, que fará uma diferença significativa. Estamos melhorando tanto nossa margem operacional quanto nossa geração de caixa. O que dissemos no primeiro trimestre está se confirmando”, afirmou ele em uma entrevista à Reuters, ao comentar os resultados.
No segundo trimestre, a geração de caixa medida pelo Ebitda ajustado totalizou 5,4 bilhões de reais, registrando um aumento de 21% em comparação com o trimestre anterior. No entanto, em relação ao mesmo período do ano passado, houve uma queda significativa de 43,3%.
“Redução dos custos de investimentos iniciais”
No segundo trimestre deste ano, o Ebitda da Seara, que é a unidade responsável pela produção de suínos, frangos e processados no Brasil, alcançou a marca de 566,4 milhões de reais. Esse valor representa um aumento de 34,9% em comparação com o trimestre anterior. No entanto, quando comparado ao mesmo período do ano passado, houve uma queda significativa de 68,2%.
A divisão de suínos nos EUA registrou um crescimento significativo de 164% em comparação com o trimestre anterior, chegando a mais de 1 bilhão de reais. No entanto, esse aumento foi de apenas 2,2% em relação ao mesmo período do ano passado.
No último trimestre, a divisão de criação de bovinos nos Estados Unidos apresentou um Ebitda de 502,7 milhões de reais, o que representa um aumento de 16% em comparação com o trimestre anterior. No entanto, em relação ao mesmo período do ano passado, foi registrada uma queda de 80%.
“Discutimos anteriormente que tínhamos duas áreas de negócio que não estavam alcançando seu potencial máximo: o negócio de carne bovina nos Estados Unidos e a marca Seara. No entanto, agora estamos começando a colher os frutos das melhorias que foram implementadas. Essas melhorias já começaram a ser vistas e teremos resultados mais significativos refletidos em nossos balanços futuros”, afirmou ele. Além disso, o CEO também mencionou a inauguração de novas unidades da Seara no Paraná, que também contribuirão para o crescimento do negócio.
No Brasil, a indústria de carne bovina registrou uma queda de 28,3% no Ebitda em comparação ao trimestre anterior, chegando a 484,4 milhões de reais. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda foi ainda maior, atingindo 41,3%. Vários fatores contribuíram para esse resultado, incluindo a diminuição das vendas para a China.
Tomazoni também mencionou que houve uma melhoria no Ebitda da Pilgrim´s Pride, uma empresa que atua no segmento de aves nos Estados Unidos. O Ebitda teve um aumento de 18% em relação ao segundo trimestre, chegando a aproximadamente 2,2 bilhões de reais.
Depois de ter investido 11 bilhões de reais no Brasil nos últimos anos, Tomazoni afirmou que é possível esperar uma diminuição do investimento em despesas de capital (capex) em 2024, porém isso não significa que a empresa vá interromper seu crescimento.
Em resposta à pergunta sobre a diminuição dos investimentos no Brasil, o CFO da JBS, Guilherme Cavalcanti, afirmou que a empresa ainda não elaborou o orçamento para o próximo ano.
“Prevemos uma redução do capex no próximo ano devido à conclusão das obras de expansão das fábricas em Rolândia, Paraná. Isso resultará em uma melhora do fluxo de caixa livre”, afirmou Cavalcanti.
Ele afirmou que as captações de recursos bem-sucedidas serão utilizadas para quitar a maior parte das nossas dívidas relacionadas às operações de comércio exterior.
“Estou em uma situação privilegiada, pois não terei que pagar minhas dívidas até 2027. O prazo médio da dívida é de 12 anos e o custo é bastante competitivo, com uma média de 6,08%”, ressaltou.
No mês de setembro, a empresa emitiu 2,5 bilhões de dólares em notas sêniores. Além disso, no mês seguinte, em outubro, a empresa também realizou uma emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no valor de 1,7 bilhão de reais.
A empresa encerrou o terceiro trimestre com uma dívida líquida de cerca de US$ 16,05 bilhões, o que representa uma diminuição de aproximadamente US$ 600 milhões em relação ao segundo trimestre. No entanto, houve um aumento de 10,9% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
“A listagem dupla nos Estados Unidos”
Tomazoni explicou que, após uma solicitação dos detentores de American Depositary Receipt (ADR) para participarem da votação sobre a proposta de listagem dupla nos Estados Unidos, foi necessário fazer algumas alterações na proposta e enviá-la novamente à Securities and Exchange Commission (SEC), comissão responsável pelos valores mobiliários nos EUA.
De acordo com o executivo, após o encerramento das negociações com os reguladores dos Estados Unidos, será agendada uma assembleia de acionistas para discutir a possibilidade de uma dupla listagem. No entanto, ele não deu prazos específicos para a conclusão desse processo, que a empresa esperava finalizar ainda este ano.
“Acreditamos que, mesmo que isso signifique um pouco mais de tempo, não terá impacto nos negócios da empresa. Não estamos em necessidade de arrecadação de fundos e, ao mesmo tempo, isso torna o processo mais transparente e igualitário entre os acionistas”, comentou.
Quando perguntado sobre se sentiu pressionado para concluir o processo ainda este ano, o CEO admitiu que não tinha certeza, dado que a empresa não tem controle sobre o tempo de resposta da SEC.