Cuba pretende aproveitar o potencial de sua crescente população no exterior para atrair novos investimentos e impulsionar sua economia, segundo um alto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, conforme informado à Reuters nesta semana. O país comunista está enfrentando uma recessão profundamente acentuada, considerada a pior em décadas, e busca alternativas para superar esse cenário desafiador.
Nos últimos dois anos, houve um aumento significativo no número de cubanos deixando sua ilha natal no Caribe devido à escassez de alimentos, combustível e medicamentos. Essa situação tem impactado negativamente a economia do país, que já enfrentava dificuldades devido à pandemia e às sanções impostas pelos Estados Unidos.
A falta de alimentos básicos tem sido uma das principais preocupações para os cubanos, com longas filas se formando em supermercados e mercados agrícolas. Isso se deve em parte à queda na produção agrícola, resultado de problemas estruturais e da falta de recursos para investimentos no setor.
Além disso, a escassez de combustível tem afetado diversos aspectos da vida cotidiana dos cubanos, desde o transporte público até a geração de energia elétrica. Essa situação tem causado impactos negativos na atividade econômica do país, dificultando ainda mais a recuperação da crise provocada pela pandemia.
A falta de medicamentos também tem sido uma preocupação crescente. Muitos cubanos enfrentam dificuldades para encontrar os medicamentos necessários para tratar condições médicas crônicas, como diabetes e pressão alta. Isso tem levado alguns cidadãos a buscar tratamentos médicos no exterior, onde esses medicamentos estão mais acessíveis.
O êxodo crescente de cubanos em busca de melhores condições de vida em outros países também tem impactado negativamente a economia cubana. A fuga de profissionais qualificados, como médicos e engenheiros, tem deixado o país com uma escassez ainda maior de recursos humanos capacitados, o que dificulta a retomada econômica.
Além disso, a utilização de recursos públicos para atender às necessidades básicas dos que partem tem sobrecarregado ainda mais o sistema de saúde e a infraestrutura do país.
Essa combinação de fatores – escassez de alimentos, combustível e medicamentos, juntamente com o aumento do êxodo de cubanos – impõe grandes desafios ao governo cubano na busca por soluções para esses problemas e para a recuperação econômica do país.
“A migração atual está afetando significativamente a demografia devido à sua composição, incluindo um grande número de jovens”, afirmou Ernesto Soberon, diretor de Assuntos Consulares do Ministério das Relações Exteriores de Cuba. A atual onda migratória é considerada a de maior impacto na história em termos demográficos.
Durante uma entrevista em Havana na segunda-feira, Soberon destacou que o êxodo de pessoas de Cuba representa tanto uma perda como uma oportunidade. Ele destacou que o governo está buscando revitalizar a economia do país, que enfrenta dificuldades.
De acordo com o artigo, os cubanos que vivem fora do país têm investido em várias áreas em Cuba, como pensões e restaurantes. No entanto, o governo cubano deseja aumentar o fluxo de capital e atrair ainda mais investimentos desses expatriados.
“Atualmente, os cubanos que vivem fora do país têm total liberdade para participar ativamente da atividade econômica em sua terra natal”, declarou, fazendo menção às restrições que anteriormente eram impostas pelo governo.
Nesta semana, mais de 400 cidadãos cubanos, residentes em aproximadamente 40 países ao redor do mundo, retornarão à ilha para participar de discussões com o governo cubano sobre o desenvolvimento econômico de Cuba, entre outras questões. Esses encontros marcam o início de um diálogo até então ausente há quase duas décadas entre Cuba e sua crescente diáspora.
A conferência tem como objetivo atrair cubanos que vivem no exterior, mas que possuam opiniões positivas sobre sua terra natal. Isso inclui empresários, economistas e membros de associações de estrangeiros residentes.
O cenário atual é muito diferente do último encontro formal entre os dois grupos em 2004, durante a liderança de Fidel Castro. Segundo Soberon, aproximadamente 2,5 milhões de cubanos e seus descendentes atualmente residem fora de Cuba. A situação mudou drasticamente.
Em 2021, Cuba revogou a proibição à iniciativa privada, que foi considerada uma grande restrição durante os anos de governo de Castro. Além disso, o governo cubano também flexibilizou as restrições de viagens para a maioria de seus cidadãos, permitindo que entrem e saiam livremente do país. No entanto, é importante ressaltar que ainda existem restrições para dissidentes, atletas e alguns outros cidadãos.
“Segundo Soberon, embora tenham ocorrido mudanças, algumas coisas permanecem inalteradas. Ele ressalta que o embargo imposto pelos EUA durante a Guerra Fria tem se intensificado ao longo dos anos, o que dificulta as transferências financeiras necessárias para iniciar e administrar negócios.”
“Não é possível apenas sair e retornar com uma bolsa cheia de dinheiro”, afirmou ele.
A administração do presidente Joe Biden dos Estados Unidos demonstrou apoio discreto às pequenas empresas em Cuba, porém, destaca a necessidade de melhorias no histórico de direitos humanos do país antes de conceder benefícios. Além disso, muitos cubano-americanos mostram pouco interesse em colaborar com o governo de Havana.